Que os americanos sabem ganhar dinheiro como ninguém já se sabe. O que impressiona, no entanto, é que eles fazem isto sorrindo, se divertindo, batendo boca e gritando, no melhor estilo italiano. Basta assistir a um dos canais à cabo de maior sucesso nos Estados Unidos, a CNBC, da rede NBC, uma espécie de GloboNews misturada com Bloomberg TV cheia de gente bonita, atraente, de bem com a vida, mas que só fala em dinheiro, muito dinheiro.
A rede, cujos alguns programas são exibidos no Brasil, detém quase 80% do mercado televisivo dedicado as negócios, especialmente nas tvs que ficam ligadas nos mesões das corretoras e dos bancos. Reconhecida por passar incessantemente as cotações das ações no rodapé, os chamados tickers, a CNBC furou a imprensa de todo o mundo semana passada quando descobriu que Rupert Murdoch, o empresário australiano dono da Fox, fez uma oferta hostil para comprar o The Wall Street Journal por US$ 5 bilhões.
A CNBC foi criada em 1989 sob o sugestivo nome de Consumer News and Business Channel, em Nova Jersey, perto de Nova York, e hoje tem como atração principal um doido varrido chamado Jim Cramer, que faz sucesso atirando objetos na câmera, xingando a mãe dos telespectadores e se esguelando para dar dicas de empresas e ações – comportamento que ele chama de “educação do investidor”.
Mas a CNBC tem um personagem central em torno da qual todo o mundo financeiro gravita, e ela é Maria Bartiromo, uma ítalo-americana de 39 anos, sósia da atriz Claudia Cardinale, que domina o imaginário do mundo financeiro “fazendo perguntas difíceis de uma maneira civilizada” em seus programas Closing Bell e The Wall Street Journal Report.
Ela ficou famosa não só pela sua competência – com mestrado em economia, se dá bem com o intrincados caminhos do mercado financeiro – mas por aceitar, mesmo sendo casada, viajar sozinha no jatinho do Citigroup em companhia do chefe da divisão Todd Thompson, que dispensou seus colegas numa viagem de retorno da China. Thompson foi demitido, enquanto Maria foi não só mantida no cargo, como também elogiada pelo seu profissionalismo. “Faz parte de seu trabalho”, defenderam seus chefes.
Fora o noticiário pesado, em torno de ações, bônus, derivativos etc – assistir à CNBC é como ligar seu corpo numa tomada 220 –, a rede começou a inovar a mídia especializada quando adicionou à sua programação programas de entrevistas, como Big Idea, onde o publicitário Donny Deutsch chama CEOs (Bill Gates e Warren Buffet, por exemplo) para fazer perguntas inusitadas (quantos dólares você carrega na sua carteira?), ou Deal or No Deal, estrelado pelo ator-comediante canadense Howie Mandel, hoje na sua quarta temporada.
Deal or No Deal testa a capacidade das pessoas de ficarem satisfeitas com o que ganharam – às vezes 100, 200 mil dólares – ou insistir em ganhar mais apostando na abertura de pequenas maletas carregadas por 26 modelos quase idênticas, um dilema semelhante ao dia-a-dia dos negócios que dão certo. O show está fazendo sucesso – esta semana seu apresentandor foi convidado para ir ao programa de entrevistas de Larry King, da CNN – porque, como era de se esperar, a maioria não se contenta com o que já ganhou e, ao final, perde tudo.
A exemplo de seus entrevistados, a CNBC, que também pertence à General Electric, é extremamente lucrativa. Ano passado faturou US$ 510 milhões e teve um lucro de US$ 250 milhões. Embora sua audiência não possa ser comparada aos canais à cabo CNN e Fox, por se tratar de mídia especializada, depende do humor do mercado acionário. No ano 2000, por exemplo, antes de estouro das empresas de internet nas bolsas, chegou a ser líder de audiência, mas com o mercado à deriva nos anos seguintes tem tido dificuldades para ganhar mais audiência.
Com o passar dos anos, a CNBC foi se replicando em todo mundo. Foram criados canais no Oriente Médio, na Ásia e na Europa, nesta última numa joint venture com o jornal The Wall Street Journal. Se as bolsas voltarem a ser a atração do mundo dos negócios, como já se prenuncia, sua audiência vai crescer cada vez mais.