Seattle – Seu país está em crise, precisa de dinheiro, a popularidade está em baixa e seu poder está em jogo? Ameace os Estados Unidos ou Israel, seu histórico aliado. E não se esqueça de chamar a mídia e fazer barulho, muito barulho.
É o que fazem a Coréia do Norte, o Irã, a Venezuela e agora, revolvendo a extinta Guerra Fria, o presidente russo Vladimir Putin.
Como um menino mimado, e às vésperas da reunião do G8 na semana passada na Alemanha, Putin ameaçou apontar seus mísseis para o “mundo livre”, como eram chamados os países ocidentais no passado, caso os Estados Unidos insistam em instalar mísseis na Europa Oriental para evitar um possível ataque nuclear do Irã ou de qualquer país do Eixo do Mal (ou fora dele).
Com uma guerra de palavras, que dominou as manchetes de todo o mundo por uma semana, Putin colocou a Rússia, que hoje não passa de um elefante sentado em imensas reservas de petróleo, no radar dos acontecimentos. Do jeito que se gabava o Kremlin quando a União Soviética ainda existia.
Como a história é cíclica, e como os Estados Unidos serão os xerifes do mundo por muitos anos ainda, veremos cada vez mais os americanos como uma mescla de dominadores e reféns de países que, política ou economicamente, precisam deles para sobreviver.
Não fazem nada contra a China, que rouba os empregos americanos e do mundo com pirataria e câmbio desvalorizado, porque os chineses detêm boa parte da dívida externa dos Estados Unidos.
Não fazem nada contra o México, que despeja aqui milhões de trabalhadores ilegais, pois a economia americana cresce porque, entre outros fatores, conta com mão de obra barata, iletrada, ilegal e estrangeira.
Não fazem nada contra a Rússia, seu histórico inimigo por mais de meio século, porque precisam de seu petróleo e podem ser alcançados pelas armas nucleares que foram concebidas e construídas justamente para acabar com os Estados Unidos.
A teoria é esta. Ameace os Estados Unidos, chame a atenção para o seu país, que mais ou cedo ou mais tarde chegarão bilhões de dólares que o complexo industrial militar norte-americano precisa dar vazão anualmente.
Com um PIB de US$ 13 trilhões (22% da economia mundial), boa parte deles queimados na manutenção da maior força armada do mundo (US$ 350 bilhões só no Iraque até agora), os Estados Unidos precisam encontrar encrenca (e resolvê-la) e aceitar provocações onde for para manterem esta máquina funcionando, seja em nome da democracia, da geopolítica, do petróleo, da religião ou de outro argumento qualquer.
Foi o que o que captou o escritor irlandês Leonard Webberley, que já em 1955 criou uma série de livros satíricos baseados no Ducado de Grande Fenwick, começando com O Rato que Ruge.
No livro, que depois virou filme com o ator inglês Peter Sellers, este fictício Ducado, incrustado nos Alpes Suíços, se vê ameaçado quando um americano resolve criar um vinho que competiria com seu principal e único produto de exportação, um pinot noir tão “saboroso” que só deixa ressacas como lembrança.
Com a ameaça de perder a galinha dos ovos de ouro e de ser varrido do mapa para sempre, o Ducado, por obra de seu primeiro ministro, resolve declarar guerra aos Estados Unidos.
Atravessam o Atlântico numa antiquada nau, chegam à Nova Yorque num dia em que a cidade estava deserta, seqüestram o cientista que estava fazendo a bomba “Q”, conseguem de um general um atestado de que tinham vencido a guerra e voltam para o Ducado com todos no navio, inclusiva a bomba.
É aí que surge uma das cenas mais engraçadas da história do cinema.
O almirante do Condado, que sofria de enjôos toda vez que entrava em qualquer embarcação, chega aos pés da rainha e anuncia que tinha ganhado a guerra contra os Estados Unidos, para desespero de todo o mundo.
A rainha quase tem uma síncope.
O que os grupos insurgentes no Iraque não perceberam até hoje é que, se os Estados Unidos ganharem a guerra, se tornariam uma potência no Oriente Médio. Teriam de dar um basta no radicalismo islâmico, engolir os sanduíches do McDonalds e o café do Starbucks. Mesmo assim, seriam uma potência.