Seattle – Tiger Woods, o descendente de negros, brancos, europeus, índios e asiáticos que aos 32 anos já é considerado o maior jogado de golfe de todos os tempos, a ponto de ser criticado por acabar com a competitividade neste esporte que encanta os americanos – “o máximo que você consegue é um segundo lugar”- anunciou que vai abandonar o gramado nos próximos meses para trocar parte do joelho esquerdo. Ao vencer o US Open pela quinta vez, outro recorde histórico, Tiger vai ter de ficar de molho por um motivo bastante comum aos atletas: já operou do joelho, não deu tempo para a natureza recuperá-lo, e agora vai ter de sofrer uma nova cirurgia.
Tiger, californiano nascido Eldrick Tont Woods, será o primeiro atleta a fazer um bilhão de dólares nos Estados Unidos agora em 2010. Onipresente na mídia  – além dos torneios ele é garoto-propaganda de empresas como a Accenture (“Be a Tiger”), Nike e a Gatorade, agora vem sendo alvo de teses, não só de jornalistas como de estudiosos, para explicar seu estilo calmo,  focado e impertubável, “uma verdadeiro abismo entre seus olhos e o meio ambiente que o cerca”, como definiu o colunista David Brooks, do The New York Times e da PBS, a tv americana. Além da concentração, uma vontade infinita de vencer, força só vista até hoje com o nadador Mark Spitz (“o importante não é competir, é vencer”), o ciclista Lance Armstrong ou Michael Jordan, o jogador de basquete que permanecia no ar, como Dadá Maravilha ,e, lá em cima, fazia o diabo com a bola.


No esporte, como na vida, não existe almoço grátis. Tiger respira, come e vive golfe 24 horas por dia, 7 dias por semana, 365 dias por ano. O homem, que já venceu os 14 mais importantes campeonatos de golfe e 65 PGA Tours, fazendo-o da forma mais rápida e incisiva entre os concorrentes, é destes predestinados. Começou a jogar com dois anos de idade. Aos três, acertou 9 buracos num tempo recorde e, aos 9, apareceu na Golf Digest e na TV ABC no programa “Isto é Inacreditável”. Seu pai, Earl, um tenente coronel veterano do Vietnã mistura de negro, chinês e índio americano, lembrou que Tiger passava até três horas seguidas na TV sem desgrudar os olhos das partidas, que muitas vezes fazem muita gente dormir.  Tiger disse que seu pai lhe ensinou a auto disciplina, mas foi sua mãe, Kultida, mistura de tailandesa, chinesa e holandesa – que lhe transmitiu o budismo que, segundo ele, lhe ajudou a controlar a teimosia e a impaciência.
Seja a meditação,  a mistura de raças ou a habilidade de nascença,é interessante como Tiger comporta-se como o próprio animal que inspirou seu apelido e, em campo, fica impassível, com olhos arregalados, a espera do momento oportuno para agir, deixando a cabeça processar milhares de variáveis para gerenciar o risco de errar e perder. Imagina-se que sua mente assemelha-se aos algoritmos dos computadores para imaginar dezenas de jogadas à frente, levando em consideração milhares de variáveis sem menosprezar (ou deletar) as experiências do passado. Tiger, a exemplo de seus pares, casou com uma loira esvoaçante, tem uma vida reclusa e é tão previsível e monótono em suas entrevistas quanto Ayrton Senna falando de performance automobilística.
Sua performance no golfe lembra a chegada de Mike Tyson ao boxe: ganha todas, reinventa o esporte, atrai multidões, gera as mais bizarras explicações. Ao contrário de Tyson, que não conseguiu controlar seus impulsos destrutivos, Tiger parece sempre estar no comando, com a mente alerta, a coluna ereta e o coração tranquilo. De tacada em tacada, é fonte de inspiração para todos nos.

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