Seattle – Quando tomava seu último drinque num restaurante de Nova York na noite em que comemorou seu 52º aniversário, dia 13 de março deste ano, Jamie Dimon, CEO e chairman do JP Morgan Chase, recebeu um chamado dos diretores do Bear Stearns, a venerável casa bancária nova-iorquina, àquela altura vítima de uma corrida sem precedentes. “Precisamos de US$ 30 bilhões para fechar o caixa esta noite”, imploraram. Dimon deu dois goles, pensou alguns segundos já ia respondendo um sonoro não quando avaliou que ali estava o início de uma catástrofe de proporções globais. A festa de aniversário não só tinha acabado para ele. Naquela noite e nas 72 horas seguintes, em frenéticas negociações, Dimon mobilizou o presidente do Banco Central, o secretário do Tesouro e toda uma cadeia de milhares de contadores, advogados, consultores, e gerentes ao redor do mundo para salvar o Bear. Acabou comprando o banco por uma ninharia (“uma coisa é você comprar uma casa, a outra é comprar uma casa em chamas”, disse ele) por dez dólares a ação, com o aval do BC americano.
Dimon é hoje a maior sensação do sistema financeiro dos Estados Unidos. Bem nascido, formado por Harvard, cara de menino, obcecado por cortar custos, desde bônus até contas de celulares, deu semana passada uma entrevista de quase duas horas para a TV pública norte-americana, a PBS, durante o Festival de Novas Idéias, em Aspen, Colorado. Ali, diante do jornalista Charlie Rose, descreveu com o humor os delicados dias em que, segundo ele, o mundo foi salvo de uma hecatombe financeira. “Naquela noite, avaliamos que havia um risco de 30% de haver uma quebra sucessiva de bancos e outras instituições financeiras – mesmo assim, assumir este risco seria uma grande falta de responsabilidade – tudo poderia acontecer”. Dimon, que já foi protegido e braço direito de Sandy Weill, o obscuro banqueiro que através de fusões e aquisições chegou a chairman do então maior conglomerado financeiro mundial, o Citicorp, sendo depois demitido por seu protetor, diz que Wall Street não pode ser responsabilizada pela crise econômica americana. “Wall Street somos todos nós”, disse ele. Qualquer cidadão americano (ou de muitos países) possui investimentos ou aposentadorias negociadas lá, explica. “No entanto, há muita alavancagem, liquidez e ambições desmedidas, mas Wall Street apenas reflete o que se passa na economia”.
Dimon, casado e pai de três filhas, já poderia estar descansando em cima dos seus quase um bilhão de dólares, principalmente em ações do JPMorgan, mas parece um gênio jovial quando fala do sistema financeiro, dos Estados Unidos e dos problemas a serem enfrentados por Barack Obama ou John Mccain, candidatos dos democratas e dos republicanos. O principal deles, diz Dimon, é o que ele considera uma “esclerose” das instituições norte-americanas. Para o chairman do JPMorgan, os Estados Unidos perderam a capacidade de reagir e resolver seus problemas, habilidade que, há quase um século, tem levado o país a ser a maior potência do mundo. Por exemplo, “desde 1974 sabíamos da crise de petróleo, e mesmo fizemos muito pouco para solucioná-la”. Mais ainda, os Estados Unidos não têm um plano para resolver o decadente sistema educacional e os estratosféricos custos da saúde, reclama. “Apesar de democrata, tenho muitos amigos republicanos e milionários que pensam que eles fizeram este país – penso o contrário: eles são beneficiários das oportunidades que os Estados Unidos lhes ofereceram e agora está na hora deles ajudarem o país a resolver estas importantes questões”.