Seattle – Os Estados Unidos pararam na semana passada para assistir, impávidos, à herdeira dos Hotéis Hilton, Paris Hilton, 26 anos, voltar para uma minúscula cela na prisão feminina de Los Angeles, na Califórnia, onde cumprirá pena de 45 dias por dirigir bêbada. Paris já tinha sido encarcerada, mas ganhou prisão domiciliar (e coleira eletrônica) depois de se recusar a comer e entrar em depressão. Voltou para as grades chorando e gritando pela mãe.
Mais uma vez, Paris demonstrou sua capacidade para gerar mídia, como se ela e os paparazzi tivessem nascidos um para o outro. Todas as redes de TV – inclusive a cabo – colocaram helicópteros durante horas para filmar sua volta à prisão –e, novamente, provocar o debate sobre esta celebridade que se tornou famosa, em 2003, por fazer sexo com o namorado num vídeo distribuído à exaustão pelo Youtube.
A moça, que se não trabalhasse teria direito a US$ 1 bilhão de herança dos hotéis e da fortuna do pai, que é corretor de imóveis em West Hollywood, é uma máquina de fazer dinheiro: girou quase US$ 260 milhões em diferentes empreendimentos em 2006 e colocou no bolso cerca de US$ 7 milhões, tornando-se uma das pessoas do show business que mais faturou no ano passado.
Paris é tudo que um pai não deseja numa filha ou, em termos históricos, é um monumento ao nada. Faz sexo para milhões de internautas (interrompeu o ato para atender um celular), fala palavrões em público (TVs estão sendo penalizadas por mantê-la num ar vomitando impropérios), trata os pobres, negros e latinos como porcos e sua ausência, como se brinca no Brasil, preenche uma lacuna: a herdeira não contribui em nada para o bem da humanidade, a ponto de ser eleita numa pesquisa da Associated Press como o pior modelo de celebridade de 2006 e, pelo Guiness, o livro dos recordes, como a personalidade mais exagerada de todos os tempos. Da solidão da prisão de 2 x 3 metros, disse que recebeu um chamado de Deus e fará de tudo para se comportar daqui em diante.
Atriz, modelo, empresária, cantora, designer, socialite e agora escritora, pois acaba de lançar sua autobiografia, Paris sabe, como poucos, chamar atenção e encher os bolsos. Por exemplo, ganhou US$ 400 mil do ex-namorado na Justiça pela não autorizada distribuição de sua pornochanchada na Internet. Seu livro, pelo qual ganhou US$ 100 mil de adiantamento e ainda carinhoso depoimento de Donald Trump, esteve durante semanas na lista dos mais vendidos do jornal The New York Times. Ajudou a desenhar uma coleção de pulseiras Samantha Thavasa, uma linha de jóias para a Amazon, e ainda um perfume para a marca Parlux Fragrances em sua homenagem (nomes: Paris Hilton, Paris Hilton for Women, Paris Hilton for Men, Just Me Paris Hilton, Paris Hilton: Heiress and Paris Hilton: Heir). Paris também emprestou seu nome para uma rede de casas noturnas e, justamente por fazer o contrário do que qualquer herdeira faria, mobiliza a audiência Internacional.
Loira, cara de boneca e magrela, Paris tem tanto poder na mídia que até os âncoras Don Rather e Brian Willians já pediram desculpas em pleno ar por serem obrigados a noticiar seus passos em direção à prisão – ou simplesmente qualquer respiro seu. É um reconhecimento sobre o que a mídia, hoje, é obrigada a relatar, especialmente para não perder a audiência de crianças e adolescentes. A empresária, que controla a empresa Paris, Inc. com a ajuda da família e se considera uma mescla de “mulher de negócios e uma marca”, já recebeu elogios do avô, Barron Hilton (“você trabalha mais do que todos os meus executivos e de qualquer pessoa que conheço”). Paris, no entanto, não precisa dos elogios do avô. “Acho que toda década tem um ícone loiro – como Marylin Monroe ou a Princesa Diana – e, agora, eu sou este ícone”, diz.
Como apontou o escritor Khaled Housseini, do livro Caçador de Pipas, esta semana na rádio pública PBS, histórias como a de Paris Hilton – e em outras épocas Branca de Neve, Gata Borralheira etc – sempre fazem sucesso por comparar ricos e pobres, bem e mal nascidos, maus e bons, ódio e amor, brancos e não tão brancos – a mídia, apenas, reproduz o desejo humano de idolatrar estes contos-de-fada. No caso de Paris Hilton, é preciso trocar o sótão de um castelo medieval pelo xadrez de Los Angeles.