gump.jpgPuerto Vallarta, México – A vida imita a arte, e é por este motivo que o grupo Viacom está celebrando uma década de lucros com uma idéia nascida em um dos mais formidáveis filmes de todos os tempos: Forest Gump, ganhador de seis Oscars, inclusive de melhor ator para Tom Hanks.
Para quem não se lembra, Forrest vai à guerra do Vietnã e faz de Benjamin Buford “Bubba” (Mykelti Williamson), um negro que conhecia tudo sobre camarões e só falava sobre camarões, seu melhor amigo.
Bubba, que tinha um QI tão baixo quanto Gump, morre numa emboscada vietnamita. Forest volta como herói, fica famoso e cria a Bubba Gump Shrimp Co., entre outros projetos de sucesso que coincidem com os principais marcos da história recente dos Estados Unidos.
A Paramount, que distribui o filme e hoje pertence à Viacom , já ganhou quase um bilhão de dólares apenas como a exibição de Forrest, depois de ter investido míseros US$ 58 milhões. Mas, embalada pelo sucesso do filme entre uma legião de adoradores, criou no final de 1996 a rede temática de restaurantes que transformou-se uma máquina de ganhar dinheiro.
Freqüentar o Bumba Gump, que além dos Estados Unidos também tem diversas filiais aqui no México e na Ásia, é como mergulhar no set do filme. Obviamente, tudo gira em torno de camarões, que Bumba chamava insistentemente de “a fruta do mar”: fritos, salgados, assados, doces, à La Creole, sopas, coquetéis, churrascos, pipocados, com limão, coco, pimenta, abacaxi, em saladas, em sanduíches – é difícil escolher.
O filme é passado em telões e, como em todos os filmes geniais, não dá para tirar o olho enquanto se come camarões, preferencialmente com morritos, a bebida cubana. O cardápio é uma raquete de pingue-pongue (Forest foi campeão mundial e, através deste esporte, “responsável” pela reabertura do diálogo entre China e Estados Unidos na década de 70). Antes de chegar às mesas, passa-se por uma pequena loja onde se podem comprar camisetas, bonés e souvenires do filme.
Nas paredes, estão afixados os ditados maternos (cujo papel é representado pela excelente Sally Field) sempre repetidos por Gump, como “a vida é uma caixa de chocolates – você nunca sabe o que você vai pegar”, e, numa tradução livre, “não existem pessoas burras – apenas burrices”. Se você quiser chamar o garçom, levante uma placa azul que diz “Corra, Gump”, a frase que o tornou “campeão” de futebol americano e, já na década de 70, “precursor” do jogging.
Os restaurantes são caros para uma rede temática (pense entre 50 a 100 dólares por pessoa), e depois desta overdose de Forrest Gump é difícil querer voltar e passar pela experiência novamente. Mas sempre permanece a idéia de que a história é feita por pessoas comuns, descompromissadas econômica e politicamente, que transformam o mundo porque apenas fizeram o que se esperava que fizessem quando, por uma obra do destino, estão nas horas e nos lugares certos.
Assim é Forrest Gump. Limítrofe, aleijado na infância, arranjadinho, bom moço, motivo de chacota dos colegas e do desprezo dos mais velhos, Gump é o centro de eventos notáveis, como o surgimento de Elvis Presley, a revelação de Watergate e o nascimento da Apple. No filme, ele também aparece como co-autor de Imagine, a música-hino de John Lennon.
Gump, também através de efeitos especiais, graças ao trabalho de Ken Ralston (pelo qual ganhou um Oscar) participa do episódio da entrada de alunos negros (pela primeira vez) na Universidade do Alabama, e visita os ex-presidentes John F. Kennedy, Lyndon Johnson e Richard Nixon na Casa Branca, por motivos diversos e sempre fazendo alguma coisa ridícula – e televisionada em branco e preto para todo o país.
O filme, que ainda ganhou mais de 24 diferentes prêmios e é motivo de culto até hoje, é um retrato da América, do herói que contra tudo e contra todos (inclusive ele mesmo, devido à sua limitada inteligencia) veio, viu e venceu, como faziam os romanos. É um dos 100 melhores filmes de todos os tempos, segundo o ranking do American Film Institute.
É, também, motivo de polarização entre os críticos, um debate semelhante a quem assistiu, durante a ditadura militar no Brasil, ao embate entre A Banda, de Chico Buarque, e Disparada, de Geraldo Vandré. A metade acha que trata-se de um melodrama pop, enquanto a outra metade diz que o filme é tão doce quanto uma caixa de chocolates. Ou mesmo um delicioso coquetel de camarão.

* Dirige a Cia. da Informacao em Seattle, Estados Unidos ([email protected])

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