Seattle – Traída pelo marido, traída pelo Partido Democrata e agora por Barack Obama, que não a escolheu para ser vice-presidente na sua chapa à Presidência dos Estados Unidos, a senadora por Nova York Hillary Rodham Clinton, 60 anos, não deixou por menos. Subiu semana passada no palanque da convenção do partido em Denver, Colorado, e, lá de cima, jurou fidelidade ao marido (“um dos melhores presidentes norte-americanos até hoje”), ao Partido (“precisamos nos unir”) e a Obama (“ele é o meu candidato”).
Mulher traída, como se sabe, é um dos bichos mais perigosos que existe. Quando traída politicamente é pior ainda. Mas Hillary, que sofreu as duas traições, é diferente. Como animal político, capaz de manter um casamento com um marido que fez sexo com uma estagiária dentro de sua própria casa, a determinação da ex-primeira dama dá inveja tanto em homens como em mulheres. Embora rica com as vendas de sua biografia (sua fortuna é avaliada em US$ 34,9 milhões), ou com as palestras do Bill, Hillary vem gastando um dinheirão desde que começou a campanha –e, o pior, está devendo os bicos. Mesmo assim, não desiste.


Ela chegou a Denver, sempre naqueles conjuntinhos que as mulheres executivas usam para não ficar muito tempo diante do armário, com um fantástico respaldo político. Teve mais votos, mais estados e mais delegados que qualquer outro candidato na história das convenções democratas, mas mesmo assim não obteve o consenso do partido. Hillary, a exemplo de outras mulheres no poder, tem um alto índice de rejeição, especialmente de mulheres que acham que lugar de mulheres é em casa, esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque, como se diz.
Fora este machismo, que nos Estados Unidos é jogado na cesta comum do que os americanos chamam de sexismo, há quem ache que Hillary na Casa Branca seria um problema. Primeiro, porque não teria peito suficiente para ocupar o cargo mais importante do mundo, um lugar onde, com uma pincelada, pode-se mudar o rumo da história do Universo, para o bem ou para o mal. Segundo, porque é casada com Willian Jefferson Clinton, cujo papel seria viver na Casa Branca e, o que é pior, à toa. E como é perigoso homem sem fazer nada dentro de casa.
Hillary subiu no palanque falando “sou uma mãe orgulhosa, uma orgulhosa democrata, uma orgulhosa norte-americana e um orgulhoso cabo eleitoral de Obama” com uma plataforma política própria, mais uma vez. Ali, caso falasse a linguagem dos homens, e não da política, falaria: “Perdi a batalha – aliás, diversas batalhas – mas aqui ainda estou, representando todas as mulheres do mundo, lutando por um lugar ao sol neste mundo machista, bélico, antiecológico e inconseqüente”.
Está certo que a presença de Hillary foi apagada pela ovação de mais de 10 minutos ao ex-presidente Bill Clinton, ou pelo irrepreensível discurso de Barack Obama (já vi discursos ótimos, mas o de ontem será visto daqui a 40 anos com a mesma devoção). Hillary volta ao Senado para continuar sua representação do povo de Nova York. A ex-candidata à Presidente vai ser provavelmente ministra de Obama. E, de lá, tentar novamente ser a presidente dos Estados Unidos.

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